Cabo Delgado: atacantes regressam e população volta a fugir
Pelo menos mais duas aldeias do distrito de Ancuabe foram atacadas, ao longo do fim-de-semana, por bandos terroristas que, desde 2017, semeiam terror na província de Cabo Delgado. Trata-se das aldeias Nanua e Nikuita, localizadas ao longo da estrada que liga a região de Silva Macua à sede distrital de Macomia, centro da província.
O ataque acontece menos de 48 horas depois de o Presidente da República e Comandante - Chefe das Forças de Defesa e Segurança, Filipe Nyusi, ter estado na sede distrital de Ancuabe para demonstrar o retorno e manutenção da segurança, mas também combater a “desinformação” e o “boato”, que supostamente estavam a ser difundidos pelas redes sociais.
Relatos a que tivemos acesso indicam que a aldeia mais visada foi Nanua, a sensivelmente oito quilómetros da sede distrital. O ataque teve lugar na noite de sábado, 18 de Junho corrente, mesmo dia em que terão sido incendiadas casas na aldeia Nikuita.
Em relação a Nanua, a indica- ção é que uma pessoa perdeu a vida carbonizada, depois de a casa ter sido ateada fogo pelos atacantes. A vítima mortal não conseguiu fugir com outros residentes da aldeia. Há também várias casas queimadas.
Com estas novas incursões terroristas, apesar do que se considera “reforço” da presença, patrulha e perseguição movidas pelas Forças de Defesa e Segurança de Moçambique (FDS) e elementos das forças amigas, a população de Nanua, que tentava regressar, teve de pernoitar nas matas, depois de ver as suas residências a serem incen- diadas pelos atacantes. Na manhã do dia seguinte, quem conseguiu carregou o que pôde e voltou a fugir da aldeia, num cenário de medo geral que faz com que as aldeias do distrito estejam cada vez mais desertas.
O destino continua a indicar para a sede distrital de Ancuabe, mas há também muitas pessoas que continuam a chegar à Pemba, a capital provincial que, em termos de acomodação e assistência, não consegue mais suportar a entrada de novos refugiados internos.
Organizações humanitárias, a exemplo da Save The Children já vie- ram a público mostrar a sua “profunda preocupação” com a progressão de terroristas para locais que antes eram comparativamente seguras. Os locais acolhiam centros de recepção e apoio a deslocados. Com os ataques a essas regiões, estas organizações não têm mais como continuar a conceder apoios, o que coloca milhares de deslocados em situação de total vulnerabilidade.
Na sua passagem pela sede distrital, o Presidente da República associou o ataque a Nandul e passagem dos grupos por outras aldeias de Ancuabe, como acção de desespero, que resulta da intensa perseguição que está a ser imposta pelas Forças de Defesa e Segurança, com apoio das Forças de Defesa do Ruanda e da Missão Militar da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).
Diante daquela situação, pediu a força conjunta para intensificar as acções de perseguição aos grupos que, nas suas palavras, “estão com fome” e “vinham para cá buscar comida porque sabem que vocês [população] estão a produzir”. Antes de se deslocar para Ancuabe e fazer visitas a algumas posições da força conjunta, Filipe Nyusi reuniu, na quarta-feira, na cidade de Pemba, com altas patentes das FDS, do Ruanda e da
SADC. (Redacção)
Artigo co-produzido com a Zitamar News,
no âmbito do projecto Cabo Ligado, em parceria com a ACLED