Cabo Delgado: atacantes regressam e população volta a fugir

Pelo menos mais duas aldeias do distrito de Ancuabe foram atacadas, ao longo do fim-de-semana, por bandos terroristas que, desde 2017, semeiam terror na província de Cabo Delgado.
20 Junho, 2022

Pelo menos mais duas aldeias do distrito de Ancuabe foram atacadas, ao longo do fim-de-semana, por bandos terroristas que, desde 2017, semeiam terror na província de Cabo Delgado. Trata-se das aldeias Nanua e Nikuita, localizadas ao longo da estrada que liga a região de Silva Macua à sede distrital de Macomia, centro da província.

O ataque acontece menos de 48 horas depois de o Presidente da República e Comandante - Chefe das Forças de Defesa e Segurança, Filipe Nyusi, ter estado na sede distrital de Ancuabe para demonstrar o retorno e manutenção da segurança, mas também combater a “desinformação” e o “boato”, que supostamente estavam a ser difundidos pelas redes sociais.

Relatos a que tivemos acesso indicam que a aldeia mais visada foi Nanua, a sensivelmente oito quilómetros da sede distrital. O ataque teve lugar na noite de sábado, 18 de Junho corrente, mesmo dia em que terão sido incendiadas casas na aldeia Nikuita.
Em relação a Nanua, a indica- ção é que uma pessoa perdeu a vida carbonizada, depois de a casa ter sido ateada fogo pelos atacantes. A vítima mortal não conseguiu fugir com outros residentes da aldeia. Há também várias casas queimadas.

Com estas novas incursões terroristas, apesar do que se considera “reforço” da presença, patrulha e perseguição movidas pelas Forças de Defesa e Segurança de Moçambique (FDS) e elementos das forças amigas, a população de Nanua, que tentava regressar, teve de pernoitar nas matas, depois de ver as suas residências a serem incen- diadas pelos atacantes. Na manhã do dia seguinte, quem conseguiu carregou o que pôde e voltou a fugir da aldeia, num cenário de medo geral que faz com que as aldeias do distrito estejam cada vez mais desertas.

O destino continua a indicar para a sede distrital de Ancuabe, mas há também muitas pessoas que continuam a chegar à Pemba, a capital provincial que, em termos de acomodação e assistência, não consegue mais suportar a entrada de novos refugiados internos.

Organizações humanitárias, a exemplo da Save The Children já vie- ram a público mostrar a sua “profunda preocupação” com a progressão de terroristas para locais que antes eram comparativamente seguras. Os locais acolhiam centros de recepção e apoio a deslocados. Com os ataques a essas regiões, estas organizações não têm mais como continuar a conceder apoios, o que coloca milhares de deslocados em situação de total vulnerabilidade.

Na sua passagem pela sede distrital, o Presidente da República associou o ataque a Nandul e passagem dos grupos por outras aldeias de Ancuabe, como acção de desespero, que resulta da intensa perseguição que está a ser imposta pelas Forças de Defesa e Segurança, com apoio das Forças de Defesa do Ruanda e da Missão Militar da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC).

Diante daquela situação, pediu a força conjunta para intensificar as acções de perseguição aos grupos que, nas suas palavras, “estão com fome” e “vinham para cá buscar comida porque sabem que vocês [população] estão a produzir”. Antes de se deslocar para Ancuabe e fazer visitas a algumas posições da força conjunta, Filipe Nyusi reuniu, na quarta-feira, na cidade de Pemba, com altas patentes das FDS, do Ruanda e da
SADC. (Redacção)

Artigo co-produzido com a Zitamar News,
no âmbito do projecto Cabo Ligado, em parceria com a ACLED

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