Resumo Semanal do Cabo Ligado: 25 de Abril-8 de Maio de 2022

Nas últimas duas semanas houve um ressurgimento de ataques e sequestros nos distritos de Nangade, Palma e Macomia. No sábado, 30 de Abril, os insurgentes foram vistos a cerca de 6 km a sul da vila de Nangade, nos arredores da vila de Chibau, onde teriam morto um idoso e incendiado vários estabelecimentos
12 Maio, 2022

Nas últimas duas semanas houve um ressurgimento de ataques e sequestros nos distritos de Nangade, Palma e Macomia. No sábado, 30 de Abril, os insurgentes foram vistos a cerca de 6 km a sul da vila de Nangade, nos arredores da vila de Chibau, onde teriam morto um idoso e incendiado vários estabelecimentos. Uma fonte alega que civis também foram capturados, mas sem precisar do número. 

Na manhã seguinte, um minibus de 21 lugares foi emboscado nas matas nos arredores de Litingina, 10 km a sul de Chibau em Nangade. O motorista conseguiu escapar dos insurgentes, que abriram fogo contra o veículo enquanto este passava. Não foram registadas mortes, mas três passageiros ficaram feridos, incluindo uma mulher, uma criança e um homem. Outra fonte afirma que os insurgentes deslocaram-se a Litingina, onde mataram uma pessoa e feriram outra. 

A 3 de Maio, os insurgentes apareceram novamente na vila de Muhia, cerca de 10 km ao norte da vila de Nangade, perto da fronteira com a Tanzânia. Fontes locais sugerem que eles decapitaram várias pessoas, mas o número de vítimas ainda é desconhecido.

A área de Nangade é formalmente da responsabilidade de tropas da Tanzânia e Lesoto no âmbito da Missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC) em Moçambique (SAMIM), trabalhando com as Forças de Defesa Moçambicanas, mas os moradores locais relatam que essas forças têm sido ineficazes no combate à ameaça insurgente no distrito. As forças da SAMIM não responderam, mesmo quando os insurgentes se encontravam a 2 km de suas posições. Essa aparente falta de ação minou ainda mais a confiança do público nas operações da SAMIM para proteger os civis, mesmo quando os relatos sugerem que o número de insurgentes activos na área pode ser tão baixo quanto seis a oito, com apenas dois ou três efectivamente armados.

Devido ao fracasso das forças de segurança em conter a ameaça insurgente, a estrada Nangade-Mueda foi interditada de circulação desde 1 de Maio, deixando a vila sem abastecimento. Isso afectou os serviços bancários, deixando muitos residentes incapazes de aceder aos seus salários, e paralisou a campanha de vacinação contra a poliomielite. 

Múltiplas fontes confirmam que tropas das Forças de Defesa do Ruanda (RDF), normalmente responsáveis pelos distritos de Palma e Mocímboa da Praia, intervieram agora em Nangade para perseguir os insurgentes. Apesar disso, os insurgentes continuaram a circular pela área e, a 7 de Maio, atacaram a aldeia de 3 de Fevereiro, a leste da vila de Nangade, e tentaram capturar uma mulher e uma criança, que acabaram por escapar. 

A 8 de Maio, os insurgentes voltaram a atacar nas terras baixas da aldeia do Rovuma, capturando várias pessoas nos campos à volta Nankuka, também no distrito de Nangade. As Forças Locais – milícias leais ao governo e à Frelimo – teriam ido confrontar os insurgentes, mas voltaram atrás depois de não conseguirem libertar os reféns. Este grupo insurgente é composto por três tanzanianos e quatro moçambicanos, dos quais um está sem um braço e o outro foi baleado. Mais uma vez, a SAMIM e as Forças Locais foram criticadas por apenas tentarem deter os insurgentes sem os combater.

O distrito de Palma também assistiu a um ataque insurgente na vila de Olumbe no dia 6 de Maio. Segundo uma fonte, os insurgentes ordenaram aos aldeões que saíssem e, saquearam a área em busca de abastecimentos, principalmente alimentos. Forças conjuntas compostas pela RDF e as Forças de Defesa e Segurança de Moçambique (FDS) chegaram rapidamente e, após um impasse, todos os 20 insurgentes foram mortos. Outra fonte afirma que antes da eliminação dos insurgentes, três soldados moçambicanos foram decapitados, sugerindo que já havia uma presença militar na aldeia quando os insurgentes chegaram. Uma outra fonte confirmou a presença de uma base militar nos arredores de Olumbe. O incidente é altamente significativo uma vez que os insurgentes foram expulsos do distrito de Palma no início de Fevereiro, segundo um comunicado do Ministério da Defesa. Desde então, a maioria dos incidentes violentos ocorreu nos distritos de Nangade, Mueda e Macomia. O seu regresso a Palma indica que conter a insurgência continua sendo uma batalha para as forças de segurança.

O Estado Islâmico (EI) emitiu uma reivindicação a 9 de Maio dando conta da morte de três membros do “exército cruzado moçambicano” e pelo incêndio de um “quartel” em Quiterajo. Uma fonte das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) também teria confirmado o ataque e as mortes. Outras fontes disseram que o ataque ocorreu na manhã de 7 de Maio e também registrou três mortes, além de outros dois feridos. 

Os ataques em Olumbe e Quiterajo e a reivindicação de responsabilidade do EI por estes últimos são significativos, pelo que nos dão a entender sobre a capacidade dos insurgentes, e pelo que nos dizem sobre o EI. O declínio na escala e na frequência dos ataques insurgentes nas últimas semanas sugeriu uma diminuição da capacidade de sustentar uma ofensiva. Ataques nessas áreas bem guarnecidas sugerem o contrário. Por outro lado, a fraqueza dos insurgentes em outros lugares trouxe alívio a 6 de Maio, quando um grupo de insurgentes em Macomia depôs as armas e se entregou às tropas ruandesas. O tamanho do grupo não é conhecido, mas diz-se que eles vêm de várias origens, incluindo da própria Macomia e além.

Outros relatórios sugerem que nem todos os insurgentes se renderam pacificamente. Segundo uma fonte, as forças ruandesas mataram 10 insurgentes na vila de Pangane, em Macomia , na noite de 6 para 7 de Maio. Os insurgentes encontravam-se todos na casa de um empresário local, que as tropas ruandesas cercaram antes de abrirem fogo, matando-os a todos.

Os civis em Cabo Delgado sofreram maus tratos nas mãos das forças de segurança do governo. Em Macomia, a 28 de Abril, cerca de sete jovens que pescavam ao longo do rio Messalo, perto de Chai, foram espancados e roubados pelas milícia das Forças Locais, que roubaram suas redes de pesca, peixes e dinheiro. Em Nangade, a 23 de Abril, pelo menos nove jovens foram capturados pelas Forças Locais nas baixas da aldeia Rovuma, também sob suspeita de colaborarem com os insurgentes, e foram deixados na mata sem nada para comer. Seu destino não é conhecido. 

Dois casos ilustram a variedade de apoio em que a insurgência se baseia. A investigação do jornal Carta sobre a detenção de cinco homens acusados de terrorismo no distrito de Balama lançou alguma luz sobre as redes de financiamento da insurgência. Quatro homens foram detidos na casa de um professor do ensino primário que transferiu fundos para contas no distrito de Montepuez e também usou fundos para comprar mantimentos para membros da insurgência que ficariam na sua casa. O irmão mais novo do professor também esteve envolvido com os insurgentes, juntando-se como combatente depois de trabalhar como comerciante entre Palma e Mocímboa da Praia. 

Num segundo caso relatado pelo Jornal Notícias, o envolvimento de um homem variou da pesca à alimentação dos insurgentes, passando pelo rastreamento dos movimentos das FDS. Originário de Nacala, mudou-se para a ilha Macaloé, no distrito de Macomia, onde trabalhou como pescador com a sua esposa tanzaniana, e companheiros congoleses e quenianos, alegadamente para abastecer os insurgentes. Mais tarde, ele foi levado para treinamento ao longo do rio Messalo antes de ser destacado como espião. Foi formalmente acusado pelo procurador do Ministério Público de Cabo Delgado de espionagem, posse de armas, associação criminosa, e pertença a uma organização terrorista a 28 de Abril. 

Em Mtwara, fontes dizem que na segunda semana de Abril, um homem foi detido por suspeita de tráfico de crianças para Moçambique. O homem teria consigo indicações para a fronteira em Mtwara. Já houve casos de crianças traficadas para Cabo Delgado por pessoas ligadas à insurgência anteriormente, e suspeita-se que tenha sido o caso deste incidente. A criança foi devolvida à família. Antes disso, não havia incidentes registados na Tanzânia relacionados à insurgência de Cabo Delgado desde Fevereiro deste ano. Se isso reflete o sucesso das medidas de segurança, ou apenas o facto de o rio Rovuma estar com o caudal alto após a estação chuvosa, ficará claro nas próximas semanas. Com o fim da época chuvosa, o rio deve ser facilmente atravessado até o final de maio.

 Este artigo é excerto do Cabo Ligado Semanal, uma colaboração do Zitamar News, MediaFax e ACLED.

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