Resposta do Governo - Cabo Ligado Semanal
A escalada da violência continua a ter efeitos devastadores na população de Cabo Delgado. Na semana passada, a Organização Internacional para as Migrações (OIM) informou que os ataques no distrito de Ancuabe em Junho afetaram cerca de 6.403 famílias em 29 locais e causaram uma nova onda de deslocamentos na província. A maioria (60%) dos deslocados encontram-se em locais de deslocados internos no distrito de Metuge, 18% em Chiúre e 16% em Montepuez. A OIM diz que as condições nos centros de deslocados permanecem críticas, com falta de abrigo, comida e kits de higiene.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) fez um apelo para o aumento da assistência humanitária a 7 de Junho. O ACNUR informou que 36.000 pessoas foram deslocadas como resultado dos recentes ataques em Ancuabe que levaram a decapitações, incêndios de casas e saques de propriedades. Segundo o ACNUR, essa nova onda de deslocamentos está a aumentar a pressão sobre a assistência humanitária, e as populações deslocadas precisam urgentemente de assistência alimentar, abrigo e serviços básicos. Além disso, as incursões insurgentes ao sul de Cabo Delgado restringiram a entrega de ajuda humanitária devido aos ataques às principais vias de acesso utilizadas pelas organizações humanitárias. O retorno das populações deslocadas às zonas de conflito nas condições atuais seria prematuro, segundo o ACNUR.
Enquanto o ACNUR desaconselha o retorno imediato dos deslocados às áreas afetadas pela violência, o governo de Cabo Delgado está a preparar a logística para transportar os deslocados de Ancuabe de volta às suas casas. Na sua visita à aldeia de Nanduli no distrito de Ancuabe para avaliar o impacto das ações insurgentes no distrito, o secretário de Estado da província de Cabo Delgado, António Supeia, disse que o governo está a “criar condições” para o regresso dos deslocados de Ancuabe que estão agora em Pemba, Chiure e Montepuez de volta às suas comunidades. Supeia disse ainda que o governo está a envidar esforços para restabelecer a segurança nas aldeias afetadas pelos ataques dos insurgentes. Ainda em Ancuabe, o Secretário de Estado foi abordado pelos líderes comunitários sobre a criação de uma Força Local no distrito; Supeia respondeu que era a favor de tal iniciativa. As Forças Locais são maioritariamente compostas por veteranos de guerra da luta de libertação moçambicana e voluntários civis que operam com as suas próprias estruturas de comando. O ministro da Defesa de Moçambique, Cristóvão Chume, indicou que o governo está disposto a legalizar as Forças Locais.
Dos 1.800 professores que deixaram os seus locais de trabalho devido aos ataques dos insurgentes, 852 regressaram ao trabalho, segundo o director provincial da Educação em Cabo Delgado, Ivaldo Quincardete, que disse que 52 escolas reabriram e 3.800 alunos retomaram as aulas. No distrito de Palma, 125 professores estão afectos às duas escolas que funcionam no distrito.
De acordo com a estatal nacional de energia de Moçambique Electricidade de Moçambique (EDM), a violência em Cabo Delgado resultou na vandalização de pelo menos 25 transformadores. Como resultado, 30.000 pessoas ficaram sem energia nos últimos três anos. O director provincial da EDM, Gildo Marques, salientou que a insegurança tem limitado a expansão da rede eléctrica em toda a província, particularmente no norte de Cabo Delgado.
Na frente internacional, o presidente somali Hassan Sheikh Mohamud, em um evento na capital da Turquia, Ancara, afirmou que o grupo militante filiada à Al Qaeda, Al-Shabaab na Somália, está a enviar dinheiro para financiar grupos insurgentes filiados ao EI em Moçambique. No entanto, em um comunicado divulgado pelo grupo Al Shabaab Somali, este negou as acusações do presidente Mohamud, chamando-as de “absurdas e lamentavelmente risíveis”. Não há evidências claras de uma ligação entre o grupo militante somali e a insurgência em Moçambique, embora haja alguma evidência de transferência de fundos de atores filiados ao EI na Somália para a África do Sul. Ambos os grupos são afiliados a dois movimentos extremistas rivais que disputam pelo domínio, particularmente na África Subsaariana.
Este artigo é excerto do Cabo Ligado Semanal, uma colaboração do Zitamar News, MediaFax e ACLED.