Violência contínua impede deslocados de regressarem a casa

Os acontecimentos recentes têm o potencial de abalar o regresso dos deslocados do distrito de Macomia, e zona sul de Mocímboa da Praia. Ataques bem orquestrados às tropas das FADM no distrito de Macomia demonstraram o poder que a insurgência mantém na área, enquanto os seus ataques a civis em Mocímboa da Praia são um lembrete da sua crueldade.
28 Agosto, 2023

Os acontecimentos recentes têm o potencial de abalar o regresso dos deslocados do distrito de Macomia, e zona sul de Mocímboa da Praia. Ataques bem orquestrados às tropas das FADM no distrito de Macomia demonstraram o poder que a insurgência mantém na área, enquanto os seus ataques a civis em Mocímboa da Praia são um lembrete da sua crueldade.

As forças de segurança também foram acusadas de incidentes contra civis. No dia 24 de Julho, um membro das forças moçambicanas alegadamente violou uma menina que voltava para casa no distrito de Nangade. No dia 15 de Julho, tropas sul-africanas dispararam contra um cidadão em Ingoane, no distrito de Macomia, segundo fontes, incidente fortemente negado pela SAMIM. 

Estes incidentes têm implicações para o regresso das pessoas deslocadas em pelo menos dois níveis. Primeiro, na zona costeira de Macomia, as pessoas que regressaram às suas aldeias tiveram de abandonar novamente as suas casas em busca de locais seguros. Em segundo lugar, algumas pessoas deslocadas que ainda vivem fora das zonas de conflito não regressarão às suas áreas de origem, enquanto incidentes como os de Julho continuam a ser relatados. Enquanto isso, aqueles que vivem em áreas relativamente calmas rezam para não reviver as mágoas do passado.

“As pessoas tinham começado a regressar às suas casas, mas foram-se embora porque viram que as coisas não iam bem. Começaram a regressar, um a um, à vila sede [de Macomia]. Alguns já estão a fazer casinhas aqui”, contou-nos um morador do bairro Anga A, na vila de Macomia.

Ele mostrou-se ainda mais preocupação com os relatos de baixas nas FDS. “Se as nossas forças estão a sofrer, mais cedo ou mais tarde, nós também sofreremos”, alertou. Mesmo residindo na vila sede, onde, nos últimos meses, não houve registro de ataques, ele manifestou preocupação com a recente onda de ataques. “A situação no litoral é assustadora, mas não podemos fazer nada”, disse, falando de pessoas que, mesmo diante da insegurança, tentam pescar para garantir a sua sobrevivência. 

Ele salientou ainda a facilidade com que os insurgentes circulavam ao longo do litoral, ao ponto de comprarem produtos à população. “Isso não é bom porque se deixarmos que comprem coisas, estamos a criá-los. Quando vendemos alimentos, estamos a dar mais força a eles. Por isso, as FDS devem fazer tudo para que os insurgentes não cheguem à sociedade, porque quando o povo está em perigo, recebe qualquer um”, disse.

Outro morador do bairro Anga B, na vila de Macomia, também falou de deslocados que regressaram, depois de terem abandonado novamente as suas casas no litoral. “Quando aconteciam esses ataques, eles fugiam de lá para cá”, explicou. Disse que as aldeias entre Mucojo, Pequeue e Quiterajo estão praticamente despovoadas, excepto os soldados e “aqueles ladrões”, como chamou os insurgentes.

Algumas pessoas já começaram a regressar ao litoral, disse, não tanto por se sentirem seguras, mas pelas dificuldades de viver longe das suas zonas de origem. “Alguns começaram a voltar para procurar comida”, disse ele. Mesmo morando na vila sede, ele expressou medo. “Claro, esses ataques são assustadores, mas o que você pode fazer?”

As notícias sobre os ataques de Julho em Cabo Delgado também complicaram os cálculos daqueles que pensavam um dia regressar a casa dos seus refúgios fora da zona de conflito. Um antigo comerciante da vila de Mocímboa da Praia, agora residente na cidade de Nampula, confirmou que estes incidentes mataram o desejo de muitos de regressar a casa. “Eu e minha família, por exemplo, estamos a tentar esquecer e ver se conseguimos nos estabelecer aqui mesmo”, explicou. Mas porquê esquecer uma terra que é a sua casa, perguntamos-lhe. “A situação lá ainda não é boa e, para quem sentiu isso na pele, como eu, não posso garantir que voltarei nos próximos três ou cinco anos”, disse.

Outro antigo morador da vila de Mocímboa da Praia, agora também residente na cidade de Nampula, manifestou desconforto com a actuação das tropas moçambicanas. “Ao contrário dos ruandeses, os nossos militares não nos tratam bem. Mesmo nas reuniões, a população diz que no dia em que os ruandeses partirem, nós também partiremos porque as nossas forças não têm amor pela população. A população está com medo”, afirmou, numa queixa que se tornou recorrente entre a população de Cabo Delgado.

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