Resumo Semanal: Cabo Ligado 25-31 de Julho de 2022

Macomia voltou a ser palco de violência insurgente na zona de Nkoe e Nova Zambézia na semana passada, enquanto os insurgentes em Nangade lançaram um ataque à sede distrital, que até então não tinha sido diretamente alvo de ataques
3 Agosto, 2022

Macomia voltou a ser palco de violência insurgente na zona de Nkoe e Nova Zambézia na semana passada, enquanto os insurgentes em Nangade lançaram um ataque à sede distrital, que até então não tinha sido diretamente alvo de ataques. Este ataque começou por volta das 9h00 do dia 26 de Julho, quando 10 a 12 homens armados entraram no bairro de Chitunda em Nangade e incendiaram entre 20 e 30 casas.

Uma fonte local afirma que pelo menos duas pessoas foram mortas, enquanto o Estado Islâmico (EI) se vangloria de ter decapitado três pessoas e queimado mais de 20 casas através de um comunicado distribuído nos meios de comunicação social. Imagens posteriores ao incidente de Chitunda vistas pelo Cabo Ligado mostram vários edifícios em ruínas devastados pelo fogo e o que parecem ser pelo menos duas sepulturas.

Os insurgentes foram então confrontados pelas forças de segurança, que mataram pelo menos dois insurgentes e capturaram cerca de cinco, segundo uma fonte local. Outra fonte, no entanto, lamentou que o fato do incidente ter ocorrido, apesar da presença de uma guarnição militar na vila, reflete um fracasso das forças de segurança. Também surgiram relatos de que as forças de segurança tentaram impedir que civis fugissem para o mato, pois seria difícil distingui-los dos insurgentes.

É raro os insurgentes lançarem ataques diretos às sedes distritais, embora as poucas ocorrências, como a captura de Macomia e Mocímboa da Praia em 2020 e Palma em 2021, tenham atraído a atenção internacional. A grande maioria dos ataques tem como preferência “alvos fáceis” ou com com fraca capacidade de defesa e indefesos nas zonas mais remotas, onde os insurgentes podem mover-se livremente e espalhar o terror com mais eficiência. 

Isto foi exemplificado a 24 de Julho quando os insurgentes mataram dois ou três agricultores que trabalhavam nos seus campos entre Nkoe e Nova Zambézia, cerca de 20 km a norte da sede do distrito de Macomia. Uma semana depois, a 31 de Julho, os insurgentes voltaram a atacar na zona entre a Nova Zambézia e Vida Nova, emboscando uma coluna de viaturas na estrada EN380, matando o condutor de um camião-cisterna e ferindo outras três pessoas, duas das quais foram encaminhadas para tratamento no hospital de Pemba, segundo uma declaração de Calisto Cassiano, Comandante Distrital da Polícia. O motorista trabalhava para a empresa de energia moçambicana Exito. Este incidente irá aumentar os receios de uma mudança tática para alvos comerciais, e de mais emboscadas.

O EI reivindicou a emboscada no dia seguinte, mas alegou ter decapitado duas pessoas no ataque, além de ter danificado com metralhadoras sete viaturas que faziam parte da escolta. Esta declaração, que apareceu nas redes sociais, foi anexada a fotos de dois corpos decapitados, alegadamente vítimas do ataque. A declaração do EI menciona ainda a emboscada de soldados moçambicanos, contradizendo a negação explícita de Cassiano de que a coluna estivesse escoltada pelas forças de segurança. Afirmou, contudo, que os militares chegaram prontamente ao local, provocando a dispersão dos insurgentes.

Relatos de Cabo Delgado e da região de Mtwara, no sul da Tanzânia, indicam que o movimento de insurgentes através da fronteira continua. Fontes em Cabo Delgado referem pelo menos dois incidentes na semana passada. Uma fonte local recebeu informações de uma incursão a uma mesquita na Maheha, no distrito de Tandahimba, a 26 de Julho, e a detenção de um número não especificado de pessoas. Maheha fica a menos de sete quilômetros da fronteira e a apenas 22 quilômetros da vila de Nangade. As mesquitas nas aldeias fronteiriças na Tanzânia foram usadas no passado como pontos de reabastecimento para os recrutas que se dirigiam a Cabo Delgado. Segundo esta fonte, as detenções seguiram-se à detenção de um grupo de 12 insurgentes perto da aldeia de Chihwindi, a cerca de 15 km a oeste do vizinho Newala, que  informaram então os seus colegas em Maheha. Um relato de um consultor de segurança de Moçambique refere que a 26 de Julho um grupo de 95 jovens, maioritariamente tanzanianos, foi detido a caminho de Cabo Delgado. Nenhum local foi especificado.

De acordo com uma fonte da Tanzânia, as operações de segurança nos distritos de Tandahimba e Newala da região de Mtwara se intensificaram nas últimas semanas. Acredita-se que várias pessoas tenham sido presas ou encontram-se em fuga, mas não foi possível confirmar incidentes específicos no lado da Tanzânia. No entanto, as informações indicam que as autoridades tanzanianas estão preocupadas com o movimento contínuo para a fronteira, particularmente de Dar es Salaam e Tanga, mesmo quando os combatentes regressam à Tanzânia vindos de Cabo Delgado. A região de Tanga, no litoral, foi centro de grupos islâmicos armados, particularmente entre 2013 e 2015, além de ser local de recrutamento de diversos grupos ligados à insurgência em Cabo Delgado, e ao Al Shabaab na Somália. 


Este artigo é excerto do Cabo Ligado Semanal, uma colaboração do Zitamar News, MediaFax e ACLED.

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