Resumo da Situação - Cabo Ligado: 26 de Junho-2 de Julho de 2023

Após meses de relativa paz em Cabo Delgado, na semana passada assistiu-se a um aumento da violência, com os insurgentes a atacarem duas aldeias no distrito de Mocímboa da Praia e emboscarem uma patrulha das forças de segurança em Cobre, perto da costa de Macomia, matando pelo menos 10 soldados.
6 Julho, 2023
Photo: @Jakepor21

O incidente de Cobre, no fim de semana que começou a 30 de Junho, representou a maior perda de vidas para as forças de segurança em Cabo Delgado desde que um ataque insurgente à aldeia de Mandava, no distrito de Muidumbe, a 29 de Abril, matou cinco soldados.

A 2 de Julho, o Estado Islâmico (EI) divulgou um conjunto abrangente de materiais sobre o ataque de Cobre. Um relatório detalhado da agência noticiosa Amaq foi imediatamente seguido por uma reivindicação do incidente pelo EI, 11 fotografias e uma declaração em vídeo de Macomia, publicada nos canais das redes sociais do EI. Embora seja aceito que os assassinatos ocorreram, há algumas incertezas nos detalhes.

A Amaq afirmou que 10 militares ruandeses e moçambicanos foram mortos num “contra-ataque de combatentes do Estado Islâmico”, depois de se terem aproximado de posições insurgentes em Macomia. A esta, segundo a Amaq, seguiu-se uma “caça ao homem” de dois dias às tropas que se perderam nas proximidades de Cobre, também conhecido como Ilala, e que resultou na morte de pelo menos 10 militares.

Uma fonte na área corrobora esta versão, dizendo que a operação inicial contra uma base dos insurgentes ocorreu perto de Singuidita, no norte de Macomia, nas margens do rio Messalo, apenas 25 quilómetros a noroeste de Cobre.

A nacionalidade do falecido é contestada. Cabo Ligado apurou que uma operação conjunta de tropas das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM) e da Missão da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) em Moçambique (SAMIM) foi lançada a 27 de Junho na zona a sul de Quiterajo. Embora o EI afirme ter morto ruandeses, não apresentaram nenhuma prova definitiva disso. A seleção de bilhetes de identidade mostrados numa fotografia do EI são todos moçambicanos. O porta-voz da Força de Defesa de Ruanda, general de brigada Ronald Rwivanga, descartou a alegação como “notícia bastante falsa”, enquanto uma fonte próxima às FADM afirmou que tropas ruandesas estavam entre as vítimas.

Existem inconsistências neste ponto nas comunicações do EI. Ao mesmo tempo que afirma ter morto tropas ruandesas, o relatório da Amaq diz mais tarde que “o ataque ocorreu depois que o exército moçambicano e seus aliados da SADC mobilizaram suas forças em Macomia, em preparação para lançar uma campanha militar na região”. A afirmação oficial do EI refere-se às “forças da SADC”, enquanto as legendas nas fotos referem-se aos ruandeses. A confusão pode advir da semelhança entre os uniformes fornecidos pela Missão de Formação da União Europeia em Moçambique (EUTM) aos formandos, e os das forças ruandesas, nomeadamente os capacetes. Como tal, ainda não há evidências de que soldados ruandeses ou SAMIM tenham sido mortos ou feridos no incidente.

Há também inconsistência no tempo. O relatório da Amaq diz que os assassinatos ocorreram durante uma perseguição de dois dias que começou na sexta-feira, 30 de Junho, enquanto a afirmação do EI afirma que eles ocorreram na própria sexta-feira.

A apreensão de materiais não é contestada. Segundo a Amaq, o material apreendido incluía “oito metralhadoras médias, cinco lança-foguetes e três morteiros, para além de espingardas ligeiras, caixas de munição e pertences de alguns soldados em fuga”. Sobre este último ponto, Cabo Ligado pôde confirmar que um dos militares cujo bilhete de identidade constava de uma foto do EI está vivo, mas confirmou à família que esteve numa emboscada. 

O EI também afirma ter capturado um soldado moçambicano, cuja foto foi incluída no relatório da Amaq, bem como em uma reportagem fotográfica separada do EI. Seu destino permanece desconhecido. Uma pala no ombro indica que ele é um comando do exército. Isso corrobora relatos de fontes, e online de que as tropas faziam parte da Força de Reação Rápida (QRF) treinada pela EUTM.

As mortes são um golpe significativo para as operações de contra-insurgência das FADM. As tropas da QRF, em particular, foram especificamente treinadas para realizar tais operações. Sair-se tão mal do encontro será um golpe para a moral deles. É provável que também leve o governo moçambicano a reforçar os pedidos de armamento à UE e a outros países.

Para os próprios insurgentes, foi uma vitória significativa. A declaração em vídeo mostrava um homem mascarado falando em árabe, ladeado por outro e de pé sobre os cadáveres de três soldados mortos, presumivelmente no local. Cita o porta-voz do EI e principal ideólogo, o falecido Abu Mohamed al-Adnani, dizendo “descrentes, tiranos, pensam que vamos parar? Permaneceremos até o fim dos tempos. Pararemos de lutar quando rezarmos em Roma”.

No início da semana, no distrito de Mocímboa da Praia, os insurgentes estiveram envolvidos em dois incidentes na zona de Mbau, zona sul do distrito. Na tarde de 28 de Junho, os insurgentes queimaram várias casas e, segundo uma fonte local, mataram um homem na aldeia de Limala. Carta de Moçambique relatou que os moradores locais descobriram um esconderijo de insurgentes nas proximidades e levaram alguns de seus pertences, levando os insurgentes a atacar a aldeia em retribuição.

Três dias depois, os insurgentes apareceram na aldeia vizinha de Kalugo e mataram a tiros uma mulher enquanto andavam de casa em casa saqueando mercadorias, segundo fontes locais.

Desde Janeiro, os insurgentes concentraram os seus esforços em conquistar 'corações e mentes' ao longo da costa de Macomia e Mocímboa da Praia, negociando pacificamente com as aldeias locais. Paralelo a isso, têm vindo a aumentar o número na área, com fontes estimando entre 200 e 400 combatentes. Ainda não está claro o que motivou o regresso à violência, mas pode estar relacionado com a operação das forças de segurança em curso a sul da costa de Macomia. A resistência encontrada por esta operação indica a força da concentração de insurgentes.

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