Projecto LNG da Total: Ameaças recrudescem quando se pensa no regresso
A deslocação do presidente e director geral da TotalEnergies, Patrick Pouyanné, a Moçambique, particularmente para três locais de interesse especial nos distritos de Palma e Mocímboa da Praia, está a ser marcada por uma realidade de recrudescimento de acções terroristas em Cabo Delgado.
Com efeito, meses antes da circulação das primeiras informações sobre uma visita programada de Patrick Pouyanné, os distritos de Cabo Delgado viviam uma relativa tranquilidade, caracterizada, por exemplo, pela ausência de ataques a viaturas em troços que em outros momentos já tinham sido considerados intransitáveis e extremamente perigosos para viaturas sem escoltas das Forças de Defesa e Segurança (FDS).
Entretanto, dias antes da consumação da visita que, apesar de não oficialmente comunicada já havia informações sugestivas de que ela teria lugar, os ataques a viaturas, particularmente na Estrada Nacional 380, no troço entre a vila de Macomia e o cruzamento de Silva Macua, na ligação com a cidade de Pemba, recomeçaram. Não só recomeçaram emboscadas a viaturas, mas, igualmente, se assiste, de novo, ataques reiterados e até simultâneos em alguns distritos de Cabo Delgado.
O primeiro ataque a viaturas, depois de longo período de relativa tranquilidade, teve lugar na quarta-feira. No mesmo dia, e em locais bastante próximos um do outro, três viaturas que faziam a ligação Pemba - Macomia e Macomia - Pemba foram emboscadas.
Houve, pelo menos, a confirmação de sete mortos, seis feridos graves e três ligeiros. Houve também muitas pessoas raptadas.
A descrição de sobreviventes indica quase o mesmo modo de actuação. Depois da emboscada, os passageiros eram questionados sobre a religião que praticavam. Aos que se aferisse praticarem a religião muçulmana eram colocados de um lado e os de outras religiões, igualmente, à parte. Em muitos casos, os praticantes da religião islâmica eram deixados seguir, ou talvez, seguirem com os terroristas caso entendessem. Enquanto isso, os de outras religiões eram decapitadas, ou então raptadas.
Segundo relatos recebidos, foram duas camionetas Mitsubish Canter e uma mini-bus, as viaturas atacadas. Todos os carros transportavam carga e passageiros, dos quais funcionários públicos.
Segundo se sabe, o director-geral da TotalEnergies visitou Cabo Delgado na sexta-feira, 3 de Fevereiro, tendo, inclusive, se reunido, em Pemba, com o Presidente da República, Filipe Nyusi. Ou seja, os ataques e emboscadas ao longo das rodovias retomaram dois dias antes da chegada do CEO daquela multinacional, numa altura que a visita já tinha sido confirmada por fontes não oficiais.
No dia seguinte à chegada do CEO da TotalEnergies, sábado, também houve registo de emboscada a uma viatura, que ficou completamente em cinzas. O mediaFAX não conseguiu ainda apurar os danos humanos daquela que foi mais uma ocorrência protagonizada por supostos terroristas. Esta acção aconteceu exactamente na aldeia Nangororo, região que já na quarta-feira tinha, igualmente, registado um ataque a viatura.
Com o recrudescimento de ataques naquela aldeia localizada entre Silva Macua e Macomia, população das aldeias próximas estava já a arrumar os seus pertences e sair à busca de locais seguros. Trata-se, na verdade, de zonas que estavam, de forma paulatina, a receber a sua população de volta, mas, neste momento, é obrigada a fazer o sentido inverso, tentando buscar novos refúgios.
Neste momento, a circulação nos troços atacados só acontece com recurso a escoltas militares.
Complicações na hora de avaliar o regresso
Este cenário acontece quando a TotalEnergies está já a fazer avaliação do seu regresso para dar continuidade ao projecto Mozambique LNG, num investimento de 23 biliões de dólares.
Na visita a Cabo Delgado, Patrick Pouyanné pretendia, essencialmente, avaliar a situação de segurança e humanitária, no âmbito da tomada de decisão sobre a data de regresso.
“Assim, ele deslocou-se ao local industrial de Afungi, à vila de reassentamento de Quitunda, visitou as vilas de Palma e Mocímboa da Praia e reuniu-se com o Presidente Filipe Nyusi para falar sobre a evolução da situação de segurança e humanitária na província de Cabo Delgado, onde se situa o projecto Mozambique LNG” – refere um comunicado da TotalEnergies, distribuído na noite do dia em que a visita teve lugar.
Para uma avaliação mais aprofundada, o executivo da Total confiou a Jean-Christophe Rufin, personalidade reconhecida pela sua expertise nas áreas de acção humanitária e de direitos humanos, uma missão independente de avaliação da situação humanitária na província deCabo Delgado.
Depois de avaliar a situação no terreno, a equipa deverá ainda propor, se necessário, medidas complementares. O relatório deve ser entregue em finais de Fevereiro.
Artigo de MediaFax