Nyusi diz que estão a ser monitorados mas não explica como conseguem criar tanto horror
O Presidente da República, Filipe Nyusi, confirmou, nesta quarta-feira, a expansão dos ataques terroristas na província de Nampula, tendo, depois de Erati, passado para Memba, mais concretamente no posto administrativo de Chipene.
Falando sobre o assunto, o Presidente da República apontou que o grupo estava a ser “monitorado e seguido” pelas Forças de Defesa e Segurança (FDS), mas não conseguiu explicar por que razão é que, mesmo seguido e monitorado, o grupo tenha conseguido atravessar para a província de Nampula e atacado duas aldeias de Erati e, já na noite desta terça-feira, a Missão Católica de Chipene, no litoral distrito de Memba, província de Nampula.
“Estão a ser monitorados. Estão a ser seguidos por onde andam e eles sabem. E então, estão muito nervosos” – disse Filipe Nyusi, falando nesta quarta-feira, em Xai-Xai, no âmbito da celebração do 7 de Setembro, Dia da Vitória.
De acordo com Filipe Nyusi, o nervosismo no seio do grupo resulta, particularmente, do facto de não estarem a conseguir levar novos recrutados. Por isso, incendeiam aldeias e decapitam pessoas.
Apesar deste discurso de monitoria, seguimento nervosismo e falta de sucesso, o facto é que em Erati, os terroristas conseguiram incendiar dezenas de residências e outras infra-estruturas públicas e privadas em duas aldeias.
Aparentemente, saíram caminhando e sem qualquer cenário de confronto com as Forças de Defesa e Segurança. Foram até Chipene, onde mataram a tiro uma missionária italiana, a irmã Maria de Coppi, que estava afecta à missão católica daquela região.
Naquele local, mataram outras duas pessoas, queimaram a igreja, a escola, a casa das irmãs e outras infra-estruturas da Congregação Católica, do Estado, assim como de residentes locais. Outros padres, conseguiram fugir a tempo.
De acordo com Filipe Nyusi, também Comandante - Chefe das Forças de Defesa e Segurança, o rescaldo das últimas incursões terroristas aponta para seis decapitados, três sequestrados e dezenas de casas incendiadas.
Saíram da base Khatupa
Na explicação do Chefe de Estado, os grupos que agora criam terror em várias zonas a sul de Cabo Delgado e em Nampula partiram da base Khatupa, em Ancuabe. Ou seja, após a destruição da base, os terroristas dividiram-se em pequenos grupos.
“Espalharam-se em grupos pequenos. De 5 a 15 terroristas em direcção à faixa a sul do rio Lúrio, tentando dificultar a sua interceptação pelas FDS no terreno. Procuram criar instabilidade em Ancuabe, Meluco, Macomia, Chiúre em Cabo Delgado. Nos últimos dias, desceram para a província de Nampula, onde tentam recrutar novos membros para as suas membros da congregação religiosa, incluindo fileiras, mas não tendo ainda logrado sucesso na transferência desses jovens, razão de muito nervosismo” - explicou Filipe Nyusi, acrescentando que, “toda a noite, estivemos a monitorar isso. Os jovens estão no terreno, em combate, no posto administrativo de Chipene, distrito de Memba”.
Depois do ataque a Erati, conforme relatou o mediaFAX na edição desta segunda-feira, fontes locais já antecipavam e apontavam a necessidade de se redobrar vigilância no vizinho distrito de Memba. O itinerário já indicava que o grupo ia a Memba. E foi o que realmente aconteceu.
Conhecendo-se o lado do extremismo islâmico nos ataques terroristas que, no país, já duram cerca de cinco anos, já se poderia adivinhar o risco que corria a Missão Católica de Chipene.
E o facto é que a Missão foi encontrada completamente desguarnecida. O facto de o ataque a Chipene ter incidido sobre a Missão Católica está a fazer com que as notícias sobre o assunto sejam internacionalmente bastante replicadas, com muitas vozes de solidariedade e condenação, particularmente em relação ao assassinato da missionária que estava a trabalhar em Moçambique há sensivelmente 60 anos. A vítima tinha 83 anos.
As incursões em Nampula continuam a levantar interrogações em fuga ou se está diante de novas frentes dos grupos atacantes da linhagem do jihadismo iniciado a 5 de Outubro de 2017, em Mocímboa da Praia.
Detenções de recrutadores
Naquilo que considera abnegação e trabalho profundo das Forças de Defesa e Segurança, o Presidente da República anunciou a captura de indivíduos que, nas comunidades, assumem a função de recrutadores de jovens com objectivo de engrossar as fileiras terroristas.
Nisto, apontou, a última captura aconteceu no distrito de Mongicual, em Nampula. Este, que Nyusi justificou a omissão do nome “para protegê-lo”, terá também sido recrutado pelo já falecido em combate, Sheik Suale.
“Os nossos irmãos das FDS, no caso da Segurança do Estado, já capturaram indivíduos ligados ao recrutamento. A última captura registou-se em Mongicual. Este desempenha o papel de recrutador. Esse, por sua vez, tinha sido recrutado pelo famoso Sheik Suale. Portanto, esse jovem está sob nosso controlo e está a colaborar. Tem sob o seu controlo 16 jovens que estavam sobre o seu real significado. Se são mesmo terroristas prontos para ingressar no terrorismo” – deu a conhecer o Presidente da República.
Reacções de Nampula
Falando à imprensa, a partir da cidade de Nampula, o presidente da Conferência Episcopal em Moçambique, Dom Inácio, lamentou e mostrou-se bastante triste e chocado com a notícia do assassinato da irmã Maria, da destruição de diversas infra-estruturas e da criação de um novo drama de deslocados.
Ele voltou a repudiar os actos terroristas porque, no seu entender, não existe qualquer razão que possa justificar tamanha violência contra pessoas inocentes.
“A posição da Igreja Católica é sempre de condenação, um repúdio muito veemente a esta guerra desumana, que tira a vida de muita gente, sobretudo, gente muito pobre, muito inocente, que nem sabe por que há esta guerra.”
Já o Secretário de Estado na província de Nampula, Mety Gongola, apesar de ter apontado que as Forças de Defesa e Segurança estavam no terreno a trabalhar para o restabelecimento da segurança, não deixou de classificar o actual momento como “preocupante”. Nisto, voltou a reforçar o pedido para maior vigilância, no sentido de a população ajudar as Forças de Defesa e Segurança a identificar, com antecedência, movimentos estranhos nas comunidades. (Redacção)
Texto co-produzido com a ZitamarNews, no âmbito do projecto Cabo Ligado, em parceria com a ACLED