A aldeia de Kutua, localidade de Odinepa, posto administrativo de Namapa, distrito de Erati, província de Nampula, foi atacada quando eram cerca das 22 horas de sexta-feira, 2 de Setembro, com danos confirmados em termos de infra-estruturas públicas e privadas.

Trata-se do primeiro ataque oficialmente confirmado a uma região administrativamente pertencente à província de Nampula, depois de em ocasiões anteriores, as incursões terroristas na província de Nampula terem ficado na lógica de rumores. Até agora, o balanço do ataque já confirmado pelo administrador do distrito, Manuel Manusso, aponta para danos materiais, particularmente infra-estruturas públicas e privadas.

O destaque vai para o Centro de Saúde local, que foi vandalizado e posteriormente ateado fogo. Há, igualmente, dezenas de casas e outras infra-estruturas da população local, que simplesmente ficaram em cinzas, conforme ilustram imagens a que o mediaFAX teve acesso.

Ainda não há indicações precisas em relação a danos humanos, do ponto de vista de mortos e feridos. Até ao fecho da presente edição, também não tínhamos ainda indicações sobre a existência de possíveis raptados pelo bando atacante. Na verdade, depois de os terroristas terem arrastado, ao longo das últimas duas semanas, os distritos de Ancuabe e Chiúre, na província de Cabo Delgado, pessoas que acompanham atentamente a guerra em Cabo Delgado já colocavam fortes hipóteses de o grupo atravessar a fronteira para Nampula. E efectivamente foi isso que aconteceu. Criaram terror em Chiúre e logo a seguir entraram para o distrito vizinho de Erati, província de Nampula.

De acordo com fonte local, o grupo que irrompeu sobre Kutua, cerca das 22 horas, era composto por cerca de duas dezenas de atacantes. “Estavam fortemente armados” – disse, descrevendo seguidamente o ambiente de medo e horror, numa altura que se relatava que maior parte das pessoas tinha fugido para o mato e outros tomado a direcção da sede distrital.

Mais ainda, a fonte sugeria que, depois de vandalizar Kutua, o grupo tenha tomado a direcção de Memba, também território de Nampula. Localmente, mensagens circulam no sentido de a sede de Memba estar vigilante e com cuidados redobrados “nos próximos dois dias”.

Já ao fim de sábado, mensagens que passavam de telefone em telefone sugeriam que um ataque tinha tido lugar na aldeia Nacalola, distrito vizinho de Memba. Não tivemos confirmação desta incursão.

Com este avanço terrorista, há indicação de as Forças de Defesa e Segurança terem ampliado o alerta e iniciado o que se considera “perseguição ao inimigo”. Entretanto, em Kutua, diz-se que as FDS chegaram depois de o grupo ter abandonado o local, daí que não existe relato de qualquer tipo de confrontação.

Segundo se sabe, ao mais alto nível, o governo moçambicano e as Forças de Defesa e Segurança têm estado a dar uma interpretação de que os ataques a novas aldeias não significa, necessariamente, avanço do grupo, mas isso sim, fuga e busca de sobrevivência face à intensificação das acções de “perseguição” levadas a cabo pelas FDS.

Ainda ao longo do fim-de-semana, relatos de diversas regiões de Cabo Delgado continuavam a indicar que pequenos grupos atacantes mantinham incursões sobre algumas aldeias, o que baralha sobremaneira a actuação das Forças de Defesa e Segurança de Moçambique e das forças amigas da região austral e do Ruanda. (Redacção)

Texto co-produzido com a Zitamar News, no âmbito do projecto Cabo Ligado, em parceria com a ACLED