Ibn Omar está morto. O que vem a seguir?

A insurgência está a perder capacidade operacional. O fim do Ramadão e a época das chuvas não mostraram qualquer renovação da capacidade de combate, apesar do grande número de novos recrutas identificados em esconderijos nas imediações da floresta de Catupa, e nas frequentes aparições nos locais de pesca ao longo da costa de Macomia. A morte de Ibn Omar é um verdadeiro golpe para a insurgência. Mas é improvável que seja fatal.
29 Setembro, 2023

Demorou três semanas, mas como esperado, a insurgência em Cabo Delgado reagiu brutalmente à morte de Ibn Omar, o comandante militar do EI Moçambique. No final da tarde de quinta-feira, 14 de Setembro, um grupo de insurgentes apareceu na aldeia de Naquitengue, não muito longe do rio Messalo, e cercou vários aldeões que mais tarde foram agrupados por motivos religiosos: cristãos e muçulmanos, uma divisão que mais muitas vezes, em Cabo Delgado, segue as fronteiras étnicas.

Segundo uma publicação do EI, 11 cristãos foram mortos e as suas casas destruídas. Relatos não confirmados mencionam que algumas das vítimas foram decapitadas. Como comentou o Chefe do Estado-Maior General das FADM, Mangrasse, a 25 de Agosto, a morte de Ibn Omar não é o fim da insurgência em Cabo Delgado. Mais tarde, o ministro da Defesa, Cristóvão Chume, disse não ter ficado surpreendido com o ataque, esperando este tipo de reação.

No entanto, há grandes esperanças em Moçambique de que a eliminação de Ibn Omar marque um ponto de viragem no conflito.

No entanto, do ponto de vista operacional, a forma descentralizada como os insurgentes operam significa que a ausência de Ibn Omar não impedirá que os outros líderes da guerrilha assumam o controlo e comandem ataques em áreas específicas.

Um documento interno recente da SAMIM identificou uma série de comandantes para diferentes regiões de Cabo Delgado. No ano passado, durante a ofensiva no sul de Cabo Delgado, moradores e especialistas em segurança identificaram um indivíduo conhecido como 'Farido', também de Mocímboa da Praia, como o comandante encarregado daquela ofensiva, durante um período em que Ibn Omar estava no estrangeiro a receber treino e ensino islâmico.

O governo também anunciou o assassinato dos principais membros da insurgência, Abu Kital e Ali Mahando, em Agosto, em operações em torno da base florestal de Catupa, em Macomia. Mas também surgiu um novo nome como comandante líder, que atende pelo nome de 'Quadrado'. Tanto Farido como Quadrado foram mencionados como comandantes de base por investigadores que falaram com Cabo Ligado, tendo entrevistado pessoas que foram obrigadas a viver naqueles esconderijos.

As mortes de Omar, Kital e Mahando ocorreram todas durante uma ofensiva conhecida como 'Golpe Duro', ou 'Hard Punch', envolvendo tropas moçambicanas e da SAMIM, principalmente sul-africanas. A ofensiva centrou-se na zona costeira de Macomia, entre Mucojo e Quiterajo, um dos principais centros ideológicos da insurgência depois de Mocímboa da Praia.

O codinome Hard Punch poderá ter sido escolhido em resposta às críticas constantes de um relatório da SADC de Junho, ao qual teve acesso o Cabo Ligado, no qual a delegação moçambicana mencionou a falta de acções ofensivas contra a insurgência, por oposição a operações de manutenção da paz. Em termos práticos, isto significou que todo o trabalho ofensivo permaneceu nas mãos das Forças de Defesa do Ruanda e na crescente capacidade operacional demonstrada pelas forças especiais moçambicanas.

A forma cautelosa como Mangrasse anunciou a morte de Omar é notável – apontando para uma investigação em curso para determinar um veredicto definitivo. Mas alguns dias depois, o Presidente Filipe Nyusi, abordando claramente as dúvidas em torno da morte do comandante da insurgência, disse numa audiência pública: Ibn Omar nunca mais seria visto vivo.

Em relatos provenientes de Pangane, aldeia da zona costeira de Macomia, os insurgentes, nos seus contactos regulares com a população local, também reconhecem a morte de Ibn Omar. Um grande número de insurgentes continua a aparecer na aldeia para ir buscar mantimentos e pagar preços generosos, bem acima do habitual. Eles também continuam a insistir na necessidade de orações religiosas regulares e na abstinência total de bebidas alcoólicas.

Semanas de operações militares ao longo da costa de Macomia forçaram a insurgência a deslocar-se para oeste, ao longo do rio Messalo e através da estrada N380. O movimento sugere que o distrito de Muidumbe poderá ser o próximo alvo potencial, juntamente com a zona de Mbau, ainda parte do distrito de Mocímboa da Praia, onde ocorreu o ataque de Naquitengue. Há aí um simbolismo, uma vez que estas foram áreas ocupadas durante muito tempo, até à operação de limpeza das forças ruandesas em 2021.

Contudo, como sublinhado pelo Presidente Nyusi e Mangrasse, a insurgência está a perder capacidade operacional. O fim do Ramadão e a época das chuvas não mostraram qualquer renovação da capacidade de combate, apesar do grande número de novos recrutas identificados em esconderijos nas imediações da floresta de Catupa, e nas frequentes aparições nos locais de pesca ao longo da costa de Macomia. A morte de Ibn Omar é um verdadeiro golpe para a insurgência. Mas é improvável que seja fatal.

Este artigo é excerto do Cabo Ligado Mensal, uma colaboração do Zitamar News, MediaFax e ACLED

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