Foco Semanal: O Desafio de Segurança da Normalização
O regresso contínuo de deslocados a Mocímboa da Praia – mais de 2.500 retornaram na primeira semana de Março – é a pressionar os serviços públicos. A par desta tendência, os insurgentes continuam a chegar às comunidades, como fizeram em Ulo na semana passada, ou a atacá-las, como fizeram em Mitope na semana passada pela segunda vez este mês. Nestas circunstâncias, a comunicação de uma estratégia clara para lidar com a insurgência dentro e ao redor da vila sede de Mocímboa da Praia está a revelar-se tão desafiante quanto a prestação de serviços.
A 17 de Março, a polícia convocou uma reunião pública na vila de Mocímboa da Praia, segundo fonte da vila que compareceu. Sete homens que se diziam insurgentes rendidos foram apresentados à multidão. Um deles, supostamente de Pemba, disse na reunião que veio pedir à população que coopere com as Forças de Defesa e Segurança (FDS) de Moçambique e com as suas congéneres ruandesas, e que os combatentes se entreguem para serem reabilitados, e voltar para suas famílias. Ele também pediu que os motociclistas envolvidos no abastecimento logístico dos insurgentes da vila saiam desse negócio.
Incentivar a colaboração com as FDS e as forças ruandesas é difícil quando elas não são igualmente respeitadas. Apenas dois dias depois da reunião de 17 de Março, a mesma fonte compareceu a uma reunião pública convocada por mototaxistas, que solicitaram a presença do comandante do distrito policial. Eles reclamaram com ele que, na semana passada, um suspeito que identificaram à polícia foi rapidamente libertado. Seu apelo às autoridades ruandesas foi bem atendido e o suspeito foi novamente detido por elas. Noutro caso, uma fonte da vila conta que um suspeito foi detido a 17 de Março pela polícia moçambicana, um dia depois da sua família ter alegado ter sido inocentado pelas forças de segurança ruandesas que visitaram a sua casa para falar com ele. Em nenhum dos casos fica claro para os moradores que a prisão foi justificada e, em ambos os casos, a autoridade policial foi questionada pela comunidade.
Além da vila sede de Mocímboa da Praia, a coordenação estratégica entre os atores de segurança permanece imperfeita. Mitope, no oeste do distrito, foi atacado duas vezes no mês passado, mais recentemente na semana passada. No entanto, a aldeia ainda tem apenas um destacamento das Forças Locais e não viu nenhuma operação ruandesa. Isto contrasta com Malinde, apenas 10 km a norte da sede distrital, onde o aparecimento de insurgentes desencadeou uma resposta significativa das forças ruandesas. Mitope fica a 40 km da vila sede de Mocímboa da Praia, mas a menos de 10 km do sudeste do distrito de Nangade, onde os insurgentes encontraram abrigo no passado. A arquitetura de segurança em Nangade é complexa, com as FDS a colaborar com a Missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral em Moçambique e uma força separada da Tanzânia operando sob um acordo bilateral com Moçambique. A partilha de inteligência entre as várias forças de intervenção é deficiente, o que o Ruanda pode considerar um risco para suas forças.
Em Setembro de 2022, o Presidente Filipe Nyusi também apresentou alguns supostos insurgentes e ofereceu amnistia para aqueles que se entregam. Essas ofertas estão a ter pouco impacto, se movimentos e ataques contínuos, como na semana passada em Mitope, são uma medida. Um vídeo viral em circulação nas redes sociais também pode ser uma medida. Nele, um homem aparentemente soldado moçambicano ameaça prender um jovem. “São vocês que andam por aí a falar nos bairros que cheiramos a meias velhas”, diz ele. “Vocês não nos respeitam. É por causa dos ruandeses, não é?”
Este artigo é excerto do Cabo Ligado Semanal, uma colaboração do Zitamar News, MediaFax e ACLED.