Foco Semanal do Cabo Ligado: Ataques no Sul de Nangade
Embora os ataques da semana passada ao Centro de Saúde de Ntoli sugiram que os insurgentes estão com poucos suprimentos farmacêuticos e médicos, eles não indicam necessariamente que tenham sido destruídos pelas operações em curso contra eles no distrito de Nangade. Uma nota manuscrita que deixaram no local sugere que foi dada alguma atenção às relações com a comunidade e a necessidade de se explicar. Ataques subsequentes também sugeriram que eles não estão foragidos e que, ao contrário de sua nota, as relações com a comunidade não são a prioridade.
A nota indica alguma sensibilidade por parte deles quanto à forma como são percebidos. Denominado como uma “mensagem aos muçulmanos”, afirmou que sua luta é “contra os kafirs e o exército cristão e aqueles que lutam contra nós” e que “não temos nenhum problema com você ou sua propriedade”. A nota termina com um aviso de que quem cooperar com o inimigo não será poupado, e é assinada como “Estado Islâmico Província de Moçambique”.
Nos cinco dias que se seguiram aos ataques de Ntoli, os insurgentes apareceram primeiro nas aldeias de Namuembe, depois Liche e Ngalonga, em território que se estendia a leste de Ntoli, em direção à área de Nkonga, onde se acredita haver campos de insurgentes. Todos esses ataques envolveram destruição de propriedade e/ou saques. A sequência de ataques sugere, mas não confirma, que havia um grupo se movendo para o leste após os ataques de Ntoli.
Dois ataques em dois dias em Ntoli indicam que os insurgentes se sentiram à vontade. A área mais ampla não é território novo para os insurgentes. Em Chibabedi, a apenas 10 km ao norte de Ntoli na rota R763 de Nangade à vila de Mueda, um líder comunitário foi morto num ataque a 11 de Setembro. A 19 de Setembro, Ngangolo, apenas 8 km a norte pela R763, sofreu um ataque em que apenas civis foram alvejados. Também nessa rota, um posto avançado da Unidade de Intervenção Rápida (UIR) da polícia foi atacado em Litingina a 19 de Agosto. Namuembe foi repetidamente atacado nos últimos três meses.
A nível local, as fontes levantaram por duas vezes na última quinzena preocupações sobre a presença de colaboradores nas Forças Locais, alegando que isso facilitou a operação de dois dias em Ntoli. Acredita-se que a prisão de um tanzaniano por suspeita de fornecimento de produtos farmacêuticos, registrada no Resumo da Situação acima, tenha motivado o ataque ao Centro de Saúde de Ntoli para obter os suprimentos necessários.
O sucesso contínuo dos insurgentes na realização de ataques contra forças de segurança e civis na mesma área certamente sugere colaboração sistemática, em vez de apoio de base das comunidades, como sua nota parece buscar.
Este artigo é excerto do Cabo Ligado Semanal, uma colaboração do Zitamar News, MediaFax e ACLED.