Comunicação governamental frágil
A falta de comunicação consistente sobre o conflito no norte de Moçambique continua a ser uma das maiores fraquezas das autoridades moçambicanas na sua resposta à insurgência. Uma característica desde o início do conflito, foi exacerbada pelo aumento dos ataques dos insurgentes nas últimas semanas. A recente escalada de violência, o alastramento de grupos insurgentes pelo centro e sul de Cabo Delgado, os ataques a aldeias, a destruição de casas, igrejas e infraestruturas governamentais, bem como o assassinato de civis, provocaram uma reação descoordenada, distorcida, e confusa das autoridades, o que levou a tensão com os meios de comunicação social.
No dia 29 de Fevereiro, o Ministro da Defesa de Moçambique, Cristóvão Chume, descreveu o movimento dos grupos insurgentes, que se aproximaram a 20 quilómetros da capital da província, Pemba, como uma tentativa de criar pânico entre a população. Segundo Chume, estas incursões de pequenos grupos não implicam um recrudescimento da violência e a situação na província permanece “estável”. Na altura em que Chume fez estas declarações, as organizações humanitárias relatavam que mais de 30 mil pessoas tinham sido deslocadas pelos ataques em Chiúre e fugido para a província vizinha de Nampula. Falando sobre os ataques a Mazeze, o administrador de Chiúre, Oliveira Amimo, disse que os ataques dos insurgentes resultaram na destruição de infraestruturas básicas, como edifícios governamentais, igrejas e casas. Perante a informação sobre o impacto dos ataques, o bispo de Pemba disse que não há dúvidas de que a província de Cabo Delgado está “a arder” e que não adianta minimizar a situação.
O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, também deu uma visão menos optimista do conflito. Em primeiro lugar, disse que a nova dinâmica dos insurgentes exige uma nova abordagem por parte das Forças de Defesa e Segurança (FDS) de Moçambique. No entanto, quando o governo francês emitiu um comunicado alertando os seus cidadãos contra viagens a determinados pontos de Cabo Delgado devido ao aumento da instabilidade, Nyusi ficou furioso, dadas as implicações que o comunicado poderia ter para a retoma dos trabalhos da multinacional francesa Total sobre o seu projecto de gás natural liquefeito em Afungi, Palma. Embora não tenha fornecido qualquer informação que contrarie o aviso, Nyusi disse não compreender porque é que os franceses emitiram tal declaração. O Presidente Nyusi disse mais tarde que os movimentos insurgentes no sul tinham como objectivo o recrutamento de “crianças e jovens”, mas que as FDS tinham frustrado esses esforços.
Enquanto o Ministro Chume minimizou a situação de conflito e o Presidente Nyusi mostrou algumas preocupações com os novos desenvolvimentos, o governador de Cabo Delgado, Valige Tauabo, dirigiu os seus ataques à imprensa. Ele acusou os jornalistas de estarem “em harmonia” com os insurgentes ao reportarem os ataques dos insurgentes em tempo real. Isto, acredita ele, enfraquece as FDS. Acusou a imprensa de ser antipatriótica ao destacar os feitos dos insurgentes e não das forças moçambicanas.
Estas inconsistências nas informações sobre o conflito e os ataques aos meios de comunicação revelam a fraqueza do governo na gestão da comunicação. Esta fraqueza pode dever-se à falta de uma estratégia central de comunicação, que permitiria ao governo falar a uma só voz e apresentar uma versão e resposta unificada ao conflito, evitando assim intervenções conflituosas, contraditórias e incoerentes.
O governo tem uma abordagem reactiva em vez de proactiva; as autoridades só falam sobre o conflito quando estão sob pressão pública. Uma abordagem proactiva permitir-lhes-ia disponibilizar informações para que pudessem tomar decisões e tomar medidas antecipadas para resolver questões de segurança. Outro problema é a falta de informes regulares com os meios de comunicação social. A ausência de informação oficial regular leva, por exemplo, a situações em que os jornalistas são forçados a confiar na informação fornecida pelo EI na ausência de informação oportuna de fontes oficiais. Para piorar a situação, o governo tem confiado em canais de propaganda ou meios de comunicação controlados pelo Estado para responder às críticas e divulgar informações que deturpam a realidade, em vez de transmitir factos no terreno.