Cabo Ligado Semanal, Foco Semanal: Tanzânia destaca força bilateral para Cabo Delgado
Na semana passada, surgiram informações indicando que a Tanzânia destacou uma força para o distrito de Nangade ao abrigo de um acordo bilateral entre os governos da Tanzânia e de Moçambique. A informação partiu de uma apresentação pública feita por um oficial das Forças de Defesa Popular da Tanzânia (TPDF) ao Administrador do Distrito de Nangade, Matias Constantino, no passado dia 10 de Fevereiro. A presença de uma força bilateral, a par de um destacamento no âmbito da Missão da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral em Moçambique (SAMIM), pode ser um fator complicador na resposta internacional ao conflito.
O oficial disse a Constantino que “nossos dois governos firmaram acordos conjuntos para proteger nossas fronteiras contra o grupo terrorista Ahlu Sunna Wal Jamaa”. Prosseguiu dizendo que a TPDF está “autorizada a exercer as suas funções na província de Cabo Delgado, distrito de Nangade”, estando desde 16 de Outubro sediada em Mandimba, no nordeste do distrito de Nangade.
Esse destacamento do TPDF era conhecido localmente na altura. Cabo Ligado relatou em Outubro a chegada de cerca de 300 soldados em Mandimba. No entanto, é surpreendente que o destacamento tenha sido feito fora da estrutura da SAMIM, sob a qual um destacamento do TPDF é baseado na sede do distrito de Nangade e um destacamento da polícia acaba de ser anunciado. Não se sabe como a 'URT Bilateral', como referiu o oficial desta nova força, se relacionará com a SAMIM. 'URT' refere-se à República Unida da Tanzânia.
De todos os países que fazem parte das forças de intervenção, a Tanzânia é o que tem mais em jogo. O envolvimento dos tanzanianos na insurgência tem prejudicado sua relação historicamente importante com Moçambique. São também o único país que contribui com tropas a ter sido atacado diretamente pelos insurgentes, principalmente quando a vila fronteiriça de Kitaya foi atacada em Outubro de 2020.
O destacamento de forças ruandesas no distrito de Palma, na fronteira sul da Tanzânia, representa um novo desafio, tanto nas relações com Moçambique, como em termos de segurança. A visita da Presidente Samia Suluhu Hassan a Moçambique em Setembro de 2022 procurou abordar a primeira questão. O destacamento de tropas em Mandimba aborda a segunda questão. Mandimba fica a apenas 25 km a oeste de um posto avançado ruandês em Pundanhar, no distrito de Palma. Presumivelmente, se a Tanzânia estivesse satisfeita com os arranjos de segurança existentes no norte de Moçambique, tal movimento não seria necessário.
A Tanzânia esteja talvez ciente das alegações de que Ruanda apoia o grupo armado M23 na República Democrática do Congo (RDC), onde a União Europeia (UE) apelou na semana passada para que cessasse o seu apoio ao M23, o grupo armado não estatal que desafia o governo da RDC no nordeste. Há muito em jogo no sul da Tanzânia. Se o projeto de gás natural liquefeito da Tanzânia for adiante na região de Lindi, como ainda é esperado, suas regiões do sul serão transformadas, assim como a importância estratégica do país na região. A presença estratégica de Ruanda na fronteira – que o presidente Paul Kagame confirmou na semana passada não vai desaparecer – pode ser vista como um risco para tal.
Este artigo é excerto do Cabo Ligado Semanal, uma colaboração do Zitamar News, MediaFax e ACLED.