Assassinatos de Naquitengue

O incidente de Naquitengue é o primeiro caso desde Outubro de 2022 em que os insurgentes mataram mais de dez civis num único evento, uma mudança significativa para os insurgentes. No entanto, este facto não é supreendente.
22 Setembro, 2023

Naquitengue é uma povoação isolada de cerca de 120 agregados familiares, situada a cerca de 5 km a nordeste de Mbau. A estrada de Mbau a Naquitengue – uma via não asfaltada – atravessa um território desabitado e arborizado. Os assassinatos em Naquitengue representam um desvio significativo em relação à prática recente dos insurgentes de atacar as forças militares e de segurança.

De acordo com dados da ACLED, este incidente é o primeiro caso desde Outubro de 2022 em que os insurgentes mataram mais de dez civis num único evento. Este facto não é surpreendente. Em Outubro de 2022, o EI Moçambique sinalizou uma nova abordagem de aproximação às comunidades, dando aos “cristãos e judeus” as opções de se submeterem ao Islão, pagarem impostos ou “guerra sem fim”. Esta foi uma mudança significativa para os insurgentes. Em 2018 e 2019, 80% dos incidentes registados de violência política envolvendo insurgentes tiveram como alvo civis. Essa proporção começou a diminuir e, em 2022, era de apenas 65%. A mudança de abordagem tornou-se mais evidente este ano, com o número a cair para 38% até à data.

Em Naquitengue, não havia tais opções. Foi relatado que cristãos foram identificados, separados e fuzilados. A declaração do EI de 15 de Setembro afirmava que depois disso, “reuniram-se com o resto da população muçulmana e os exortaram à fé e à jihad”.

O massacre foi ainda mais diferente em termos de localização. Desde o início do conflito, os insurgentes atacaram civis em 30 incidentes que tiveram um número de vítimas mortais superior a 10. Apenas três deles ocorreram no distrito de Mocímboa da Praia. O distrito é considerado o epicentro da insurgência. A sua força permitiu-lhes controlar a vila de Mocímboa da Praia durante 12 meses a partir de Agosto de 2020. Apesar do controlo da vila em Agosto de 2021, as forças moçambicanas e ruandesas não conseguiram retirar os insurgentes da área, o que levou ao estabelecimento de um importante mecanismo de segurança do Ruanda. Base das forças em Mbau nos últimos meses. Se tais acções continuarem no distrito, é provável que sejam de natureza mais sectária, tendo como alvo os não-muçulmanos e os macondes.

Este artigo é excerto do Relatório Quinzenal do Cabo Ligado, uma colaboração do Zitamar News, MediaFax e ACLED.

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